phius
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| Assunto: Mundos - Conto do Phius 27/3/2012, 5:50 pm | |
| Aews!
Em 2007 comecei a escrever este conto. Há dois anos não alterava sequer uma linha de texto. Depois de tanto tempo, semana passada finalmente voltei a trabalhar nele. Não imaginava que o terminaria tão rápido e, ainda mais, escreveria mais um e iniciaria ainda outro logo em seguida! Uma sequência de eventos, mas principalmente o conto da Ksara, foram as fontes de tanta inspiração. Mas, uma coisa de cada vez. Primeiro este aqui. Depois posto o outro, que terminei hoje e ainda não revisei tantas vezes quanto minha mente faz parecer necessário. xD E o terceiro, que será relativamente grande (aprox. 40~50 páginas) vou postando capítulo por capítulo conforme for fazendo-os.
Ficaria muito feliz em ler os comentários de vocês.
Este aqui ainda não tem um nome definitivo, é a única coisa que lhe falta. Por enquanto, chama-se "Mundos".
Abraços!PS. Hm. Vale dizer: Não é um conto de RPG. Passa-se na época atual, neste mundo que vivemos. Mundos – Poxa professor! Pega leve! Tá muito dificil! – Exclamou o aluno. – Pegar leve? Danilo, mexeremos com pesos e medidas nas aulas de física. Vamos a prova. – Respondeu o professor Bruno Canis. – Brunão, isso foi uma piada? – Danilo fez uma cara de confuso. Foi péssima né? – O professor franziu o cenho e coçou a nuca. – Foi mal aí. – E todos riram.
Era dia de prova para a turma B do 2 ano do ensino médio da escola XPTO. O professor Bruno andava para lá e para cá, averiguando se algum aluno estava tentando colar. Alguns minutos se passaram e finalmente ele notou uma aluna espiando a prova da vizinha. – Fabiana, algum problema? – Perguntou Bruno, irônico. – Sim professor... são 7, na verdade. – Bruno deu um leve sorriso antes de responder novamente. – Certo, mas a solução dos seus problemas não está na prova da Amanda. – Ah, está sim, professor! Posso vê-la daqui. – Todos começaram a rir. O próprio Bruno não pôde se conter por um momento. Rindo, ele respondeu. – Não estão não Fabiana. Suas provas são diferentes! Vamos à prova, sim?
Nesse clima de seriedade misturada com brincadeira, a aula seguiu até o fim. Após todos os alunos entregarem as provas, Bruno aguardou o sinal da escola tocar e anunciar o fim das aulas do período vespertino. Juntou todas as provas em uma pasta, guardou suas coisas em sua mochila, apagou o quadro e saiu. Em três minutos, ele estava saindo com seu carro do estacionamento da escola.
Bruno Canis é um jovem professor e estudante. É um jovem esbelto, de aparência simpática, cabelos enrolados longos, sempre um pouco desajeitados. Seu rosto liso e desprovido de barba, característica da qual ele se gaba sempre que algum amigo o relata como é chato ter de se barbear a cada dois dias, lhe faz parecer apenas um jovem ainda ultrapassando a adolescência. Bruno é formado em Física. É empresário do ramo de informática, possui algumas lojas de computadores, e também da aulas de Física e Matemática em uma escola particular de sua cidade. Adora exatas e ama estudar e ensinar. Seu sonho é dar aulas em uma universidade.
Mas a maior de suas paixões não está ligada aos estudos. É o esporte. Qualquer coisa que o faça mexer o corpo e exercitar-se ele gosta, mas tem, em particular, uma paixão ardente por correr. Participa, sempre que possível, das competições de corrida urbana que acontecem em sua região e vez ou outra volta para sua casa carregando uma medalha no peito. Depois de Raquel, sua esposa, uma bela mulher de 24 anos, a maior paixão de sua vida é o esporte e a corrida de rua.
Outra paixão de Bruno, como costuma ser com quem gosta tanto de estudar, é a leitura. É visitante fiel da biblioteca municipal de sua cidade e de uma pequena livraria que há no centro da cidade, onde encomenda os livros que quer ler sempre que não os encontra disponiveis na biblioteca municipal.
... 18 horas e 42 minutos. Bruno caminhava pela rua após aquele prazeiroso dia de trabalho, indo embora para sua casa. Ele estava a pé, decidira deixar o carro na escola e ir embora caminhando. Neste momento tentava imaginar que idéia maluca lhe dera, mas seguia sem remorso, apesar da distância. Caminhava tranquilamente em seu percurso de volta, até avistar a biblioteca municipal em seu caminho. Decidiu entrar após lembrar-se de um livro que gostaria de ler. Bruno ia aproximando-se da grande escadaria que dava acesso a biblioteca até notar que, na verdade – que surpresa – não havia escadaria! O grande salto de escadas que dava acesso à biblioteca havia transformado-se em uma enorme rampa que dobrava-se em três, em caminho paralelo à entrada da biblioteca. Acessibilidade? Perguntou-se Bruno. Estranho, deveria haver uma escada também. Bruno subiu a rampa num trote. Após atravessar as grandes portas de vidro da biblioteca, já notou algo diferente novamente. Desta vez, não era algo, mas sim alguém: Os bibliotecários. Puxa vida, não conheço ninguém aqui, pensou ele. Será que mandaram todos embora? Curioso e, ao mesmo tempo um pouco triste, chegou ao balcão onde uma bibliotecária lia tranquilamente um livro.
– Boa tarde! Onde estão os antigos bibliotecários? Cadê todo mundo? – Perguntou Bruno. A bibliotecária o olhou como quem não entendeu nada. Levantou-se, colocou seu livro aberto em sua cadeira e começou a gesticular com as mãos e os braços, comunicando-se em Libras. Bruno franziu o cenho. Muda, concluiu. – Desculpe, eu não compreendo-a. Você pode me compreender? – Perguntou Bruno. A mulher hesitou e deu de ombros. Parecia realmente não entender nada. Estava claramente constrangida e procurava uma saída para aquela situação. O conhecimento de Bruno em Libras, a Lingua Brasileira de Sinais, era nulo. Ele estava realmente perdido. Inclinando seu corpo para frente, agradeceu à bibliotecária e dirigiu-se até outro funcionário que organizava alguns livros nas prateleiras. – Olá – Bruno comprimentou o bibliotecário – Tudo bom? Só por curiosidade, onde estão todos os outros bibliotecários, os antigos? – E, mais uma vez, ele é recebido com aquele olhar de quem não o compreendeu. O bibliotecário fez um sinal com a mão pedindo para Bruno esperar e dirigiu-se até um visitante da biblioteca que lia um grande livro, aparentemente uma enciclopédia, sentado em uma das mesas dispostas no centro da biblioteca. Tocou no ombro do visitante e começou a conversar com ele, também em Libras. Bruno ficava cada vez mais confuso. O bibliotecário comunicou algo ao visitante e apontou para Bruno, que aguardava ao lado de uma mesa cheia de livros, à base de uma grande prateleira. O visitante fez uma cara de desconforto e deu de ombros. O bibliotecário, então, correu até o balcão, fazendo um gesto pedindo para Bruno esperar. Lá, ele pegou uma folha e uma caneta. Escreveu alguma coisa e voltou para Bruno, mostrando o que escrevera no papel:
Eu sinto muito, mas não posso compreendê-lo. Em quê posso ajudá-lo?
Bruno, confuso e decepcionado, pegou a folha e respondeu:
Nada não, obrigado. Eu só ia perguntar algo. Pode deixar, conheço esta biblioteca de cabo a rabo. Posso me virar sozinho. Agradeço.
Assentindo com o corpo, Bruno pediu desculpas e agradeceu. Virou-se e sumiu entre as enormes prateleiras. Ao adentrar-se, ficou tão confuso que começava a perder a paciência. Não consigo falar com ninguém e agora isso! Os livros são todos iguais? Pensou. As prateleiras estavam cobertas de livros brancos, sem qualquer desenho ou ilustração na capa. Aparentavam eram todos iguais. Variavam de tamanho, mas sempre a mesma capa. Bruno pegou um deles e começou a folhear. Enfim, percebeu: Os livros, na verdade, não eram iguais. Seu conteúdo era diferente, apenas as capas eram, visualmente, semelhantes. Os livros estavam escritos em braile. Todos. Bruno agora compreendia parcialmente. Estava em uma biblioteca para deficientes visuais. Cegos, surdos e mudos, pensou. Mas o que houve com a biblioteca? Perguntava-se onde enfiaram a biblioteca normal. Nem imaginava que, na realidade, ele já estava na biblioteca normal. Depois de muito vasculhar a biblioteca em busca de um livro que ele pudesse ler, desistiu. Vislumbrou ir até a livraria ao centro da cidade, mas aquela hora já estaria fechada. Bom, vou pra casa, já chega de surpresas por hoje.
... Após sair da biblioteca, Bruno sacou seu celular, um smartphone BlackBerry, para chamar um moto-taxi. Desanimado, ele desistiu completamente da idéia de voltar a pé para casa. Ao olhar para o aparelho, espantou-se. As teclas estavam todas completamente apagadas. – Espere aí! Impossível alguém ter trocado isto no meu bolso! – E não demorou muito para ele notar que, realmente, era o seu celular. Atrás do aparelho, Bruno gravara uma frase de sua esposa que ele gostava muito. E lá estava a gravação.
A empatia é a verdadeira virtude que nos faz capazes de viver em sociedade.
Só podia ser seu celular. Observando melhor, Bruno notou que as teclas não pareciam gastas. Era como se realmente nunca tivessem sido impressas. Estavam novas, mas sem letras ou números impressos. O teclado de seu aparelho era um teclado com letras e números, em layout QWERTY (sigla que nomeia o modo como as teclas são organizadas no teclado). Sem lembrar qual a posição exata dos números para discagem dentre o teclado QWERTY, ele apertou qualquer coisa para ligar a tela e ir tentando digitar até encontrar o teclado numérico. Mas a tela continuava preta, como se estivesse queimada. O celular, porém, estava funcionando. Ele escutava o som de clique gerado pelo sistema quando algum botão era pessionado. Ele observou ainda a presença de uma pequena esfera em relevo em duas teclas. Provavelmente o F e o J, pensou. Mas seu celular não tinha isso antes. Ele ainda virou o celular mais uma vez para confirmar se realmente era o seu. Frustrado, olhou à sua volta. Avistou um telefone público alguns metros à frente. Guardou seu celular e foi até lá.
– Acho que colocaram álcool no meu chá hoje a tarde – Brincou. A essa altura, porém, ele já estava bastante assustado.
Bruno seguia até o telefone público imaginando se mais alguma coisa bizarra o esperava. A experiência na biblioteca foi bastante frustrante, até assustadora. Tudo o que ele queria era um livro, mas nada alí o servia. Viu-se imerso num mundo feito para todos ali, menos ele.
Há alguns metros do aparelho, Bruno notou algo diferente. Parece baixo, estranhamente baixo, pensou ele. Logo antes dele uma pessoa em uma cadeira de rodas aproximou-se e rapidamente entrou abaixo da estrutura que cobria o aparelho. Finalmente, ele entendeu, – De novo... – Bruno pensou alto. – Será que esse pelo menos tem os botões? – Bruno hesitou. Deu meia volta e foi embora, correndo, pelo caminho do qual veio. Ia voltar para a escola, pegar seu carro e ir embora logo.
Ao chegar na escola, Bruno entrou no estacionamento e localizou seu carro. Entrou e, finalmente, relaxou.
– Pronto, estou no meu carro. Agora é só ir para casa.
Só ir para casa subestimou o desafio que tinha à frente.
... – Álcool no meu chá – Bruno bufou – No mínimo me drogaram! – Levou as mão aos rosto e suspirou profundamente – Mas que diabos é isto, que brincadeira idiota é essa? Este não é meu carro! Mas também não tem como não ser! – Pensou, espantado. Seu carro estava bem diferente. Mas sem dúvida era o seu.
Bruno abriu a porta e dirigia-se até a entrada da diretoria com a intenção de caçar o responsável por aquela brincadeira de mau gosto até ser interrompido por uma visão assustadora. Dentro da escola, saindo de uma sala e dirigindo-se à outra, estava a diretora, andando de muletas. Claramente faltava-lhe uma perna. Bruno ficou assombrado. Aquilo tudo não estava mais lhe parecendo uma brincadeira. A diretora perdeu uma perna! Pensou. Bem, jibóias não tem pernas. Não resistiu ao humor negro, mas penalizou-se logo em seguida. Decidiu ir para casa e perguntar à sua esposa quantos anos ele dormiu pra ter tanta coisa diferente, apesar do desafio de praticamente ter de aprender a dirigir novamente, além do medo de possivelmente encontrar sua esposa sem braços ou pernas também.
Seu carro, Um Honda Civic SI 2010, estava bem diferente. O câmbio manual deu lugar à um automático. Um Civic SI Automático? Indagou-se, confuso¹. Os pedais haviam sumido. No lugar, uma alavanca próxima ao volante. Bruno começou a estudar seu funcionamento. Ligou o carro. Empurrou-a levemente. Nada ocorreu, mas ele notou as luzes de freio acenderem atrás. Ao puxá-la, o carro acelerou.
– Fácil, pensou. Vai ser moleza.
Logo na saída do estacionamento, porém, quase bateu o carro. Puxou demais a alavanca e o veículo, com seus 192 cavalos de potencia, acelerou vertiginosamente. Com mais cuidado, manobrou e seguiu viagem pela avenida expressa.
– Frear... devagar... Isso! – Bruno esperou um carro fazer a rotatória para entrar nela – acelerar... com calma... isso. Acho que peguei o jeito. – Ainda estava meio confuso com os controles do carro adaptado, mas estava indo bem. Aproximava-se de um cruzamento com semáforo. Estava concentrado demais nos controles do carro e não viu o sinal ficar vermelho para ele. Bruno se assustou.
– Eita! Freia freia freia!
Mas instintivamente ele puxou a alavanca, ao invés de empurra-la, talvez ainda familiarizado com sua caminhonete, onde o freio de mão é acionado com o puxar de uma alavanca. O carro acelerou furiosamente. Um caminhão vinha pela outra via em alta velocidade.
– Droga, pra frear tem que empurrar!
Mas ele hesitou. Se freasse àquela altura, ficaria bem no meio do caminho daquele enorme trambolho que se aproximava. Colidiria sem dúvida. Bruno acelerou mais e passou pelo cruzamento. Logo depois dele, passou o caminhão, a carga na carroceria pulando, a buzina, dirigida obviamente à Bruno, ensurdecendo todos a volta. Bruno olhou ao retrovisor, admirado com a velocidade do caminhão. Até parece que o cara acelerou mais! Pensou. Se eu tivesse tentado frear novamente e tivesse conseguido, viraria pastel. Ao retornar a atenção para frente, viu que sua situação não tinha melhorado. À sua frente havia um caminhão de pequeno porte, completamente parado no meio da rua, a seta ligada para a esquerda. Estava aguardando os carros que vinham na contra-mão passarem para poder dobrar naquela direção. Não havia espaço para desviar, o jeito era atolar o pé no freio – isto é, se houvesse um pedal de freio – e aguardar o choque que, segundo os cálculos de Bruno, seria leve se ele conseguisse frear o máximo possível. Bruno tentou frear mas, novamente, enganou-se. Bruno puxou a alavanca com toda a força. Errou de novo, acelerou ainda mais.
Imediatamente após o choque, Bruno viu um clarão e, por uma fração de segundo, sentiu ter visto passar aos seus olhos toda sua vida. Viu seus erros, seus acertos, seus amores, suas dores. Sentiu-se vendo um filme, onde ele poderia escolher um pedaço no meio e voltar a viver tudo dali em diante novamente, como se pudesse refazer sua história. Mas ele não podia. Sentiu-se diante da morte.
O clarão sumiu e ele recobriu-se. Seu carro entrava na traseira do caminhão, que foi impulsionado para frente e bateu em mais dois carros. Uma dor aguda espalhou-se por todo seu corpo enquanto ele via seu carro compactar-se. Parecia vir lata e ferro de todos os lados. Bruno finalmente apagou. É o fim.
------------------------- ¹ Embora hajam opções do Honda Civic com câmbio automático, o modelo SI não tem e nunca teve. Por isso a confusão do personagem.
... Bruno abriu os olhos, acordado por um forte solavanco. Como assim? Estou vivo? Estava dormindo no carro. Levantou a cabeça e outro forte solavanco o fez perceber sua real situação. Seu alívio por ter livrado-se daquele pesadelo maluco foi realmente curto. Estava em movimento, e muito rápido. Tinha acabado de atravessar o canteiro central da via pela qual trafegava e estava na contra-mão. Bruno dormiu no volante em seu caminho de volta para casa. Não teve muito tempo de fazer qualquer coisa, havia à sua frente um caminhão vindo na direção contrária. O choque era inevitável àquela altura.
Foi uma batida fortíssima. Bruno estava rápido demais, cochilara com o pé pressionando o acelerador do carro. Enquanto a frente de seu carro retorcia-se para dentro e invadia seu espaço, ele refletia ligeiramente sobre o sonho absurdo, do seu ponto de vista, que tivera à pouco e toda a situacão que vivera nele. Seu pensamento foi interrompido por uma forte dor na perna direita. O monte de carcaça retorcida invadiu o espaço de suas pernas e as espremeu no banco, enquanto o tranco jogava o resto de seu corpo em direção ao Air Bag que a essa altura já parecia fazer parte da frente branca do caminhão. Sentiu uma forte dor na espinha e, finalmente, um choque de sua cabeça tirou-o do ar. Bruno desmaiou.
... Bruno abriu os olhos.
– Como assim? Estou vivo? – Cochichou. – Está sim, rapazinho – Respondeu Raquel, sentada ao seu lado. Ele estava deitado no leito de um hospital – Que história é essa de dormir no volante?
Rapidamente Raquel arrependeu-se de chamar a atenção dele desse modo, apesar do seu tom suave. Afinal, aquilo já estava consumado. Sensata, procurou tranquilizá-lo e confortá-lo com seu doce amor.
– Está de castigo, vai ficar um bom tempo deitado aí. Essa é a notícia má – E a boa? – Perguntou Bruno – Eu mesma vou te vigiar – Ela então lhe acariciou o rosto. – Olha! Você tem braços! – Bruno fez uma feição espantosa – E pernas! Raquel franziu o cenho. – Você dormiu ou bebeu? – Eu dormi. Tive um sonho muito bizarro... acordei no carro e veio aquele caminhão... – Bruno hesitou e ficou pensativo. Lembrou-se do acidente. Fez força para levantar-se, mas Raquel impediu-o de tentar. A feição ligeiramente alegre que havia em sua face desapareceu completamente. Sua intenção real não era levantar-se. Consciente do que lhe ocorreu, recordando-se da ultima coisa que sentira no acidente, Bruno concluiu: – Raquel – Hesitou, pensativo. E continuou – Minhas pernas não respondem.
... – A empatia é a verdadeira virtude que nos faz capazes de viver em sociedade. Tantas vezes eu li isso, e tão pouco pude entender desta frase. Nosso mundo realmente não é feito para todos. A empatia faz falta na sociedade. Aquele sonho me fez vivenciar um dia aterrorizante. Lugares e coisas onde eu não me encaixava, um mundo completamente diferente, alheio à minha existência. Um mundo que me ignorou sem nenhum remorso, que escarneceu das minhas diferenças e fez-se constrangido pela minha presença. E esse mundo é real, existe, vivemos nele. E eu, tolo, só vejo isso agora. Realmente... Vivemos em um mundo ignorante, que precisa de empatia e amor.
Bruno, então, abriu os olhos. Desta vez, porém, despertava de um sonho ou de alguns dias desmaiado, apenas de sua reflexão. Em eventuais pesadelos, sempre era aterrorizado pela visão de si mesmo em uma cadeira de rodas, impossibilitado de praticar seu esporte favorito. E aquela cadeira que antes era sua inimiga nas noites, agora deveria tornar-se sua melhor amiga. Ele fez questão de comprar uma cadeira de rodas exatamente igual àquela que as vezes via em pesadelos. Sentado sobre ela, ele aproximou-se de sua nova inimiga e olhou para os lados procurando ajuda para vencê-la: A enorme escadaria que dava acesso à biblioteca municipal.
Última edição por phius em 28/3/2012, 4:57 pm, editado 5 vez(es) | |
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